Navegando na incerteza
o processo de reconhecimento internacional da independência do Brasil
Abstract
Em 13 de maio de 1825, o alquebrado Dom João VI (1767-1826) escreveu a seu filho Dom Pedro de Alcântara (1798-1834), em meio ao impasse em torno das negociações pelo reconhecimento da Independência do Brasil. Após arvorar-se de todos os títulos e honrarias, ele invocava seu direito divino a reinar “(...) considerando eu, quanto convém, e se torna necessário ao serviço de Deus e ao bem de todos os povos que a Divina Providência confiou a Minha Soberana Direção (...)”, deixou escapar “(...) a meu, sobre todos muito amado e prezado filho, o príncipe Dom Pedro (...), transfiro já de minha livre vontade o pleno exercício da Soberania do Império do Brasil (...)” (AHI: p17-m25j). Escrita meses antes da celebração do tratado no qual o governo português reconheceria a autonomia da antiga porção americana de seu império colonial, a carta reflete ao mesmo tempo resquícios de um pensamento intrinsecamente ligado ao Antigo Regime como faz transparecer aspectos da relação pessoal do rei português com seu filho. A autonomia política do Brasil era retratada como uma concessão.