As duas lógicas nucleares

  • José Augusto Abreu de Moura
  • Alvaro Augusto Dias Monteiro

Abstract

A partir dos anos 1980, o Brasil tomou diversas
medidas políticas de construção da confiança na área
nuclear, culminando com a adesão ao Tratado de Não
Proliferação das Armas Nucleares. A partir daí, tornou-
se um enérgico apoiador do desarmamento nos foros
internacionais. Mesmo assim, como domina a tecnologia
de enriquecimento de urânio, continuou se ressentindo
de ações externas negativas, que têm retardado seus
projetos. Isso ocorre porque, como essa tecnologia é dual,
a lógica internacional, baseada na ameaça das armas
nucleares e privilegiando a não proliferação, tem pontos
de choque com a brasileira, baseada nos usos pacíficos da
energia nuclear, mas privilegiando o desenvolvimento
e a autonomia nacionais. A lógica internacional origina
pressões transmitidas por formadores de opinião na
mídia especializada, que estão aumentando com os
avanços no desenvolvimento do submarino convencional
de propulsão nuclear, o que exigirá, a médio prazo,
negociações com a Agência Internacional de Energia
Atômica, sobre os procedimentos de salvaguarda para
seu combustível. Conclui-se que, como a tecnologia é
dual, sempre haverá choque entre as duas lógicas, mas o
Brasil tem condições de negociação apesar da oposição da
lógica internacional porque o Tratado reconhece o direito
inalienável ao desenvolvimento da tecnologia nuclear
para fins pacíficos.

Published
2023-07-04