Editorial
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Abstract
A recente popularização do uso da inteligência artificial (IA) na escrita e na publicação científica vem
suscitando sentimentos distintos na comunidade acadêmica que vão do entusiasmo pelas facilidades oferecidas
às preocupações decorrentes do seu uso impróprio.
A escrita científica é essencial para a realização de pesquisas e requer atenção criteriosa aos detalhes,
clareza na expressão e alinhamento às normas preconizadas. A importância da escrita científica com qualidade
não deve ser subestimada, uma vez que envolve um processo lento e árduo (1).
Os chamados Large Language Models (LLMs) são ferramentas de IA que foram desenvolvidas para
compreender, produzir e gerenciar linguagem textual com habilidade impressionante (2). AS LLMs são
treinadas com quantidade robustas de texto que permitem a elas realizar diversas tarefas como respostas à
questionamentos diversos, tradução e escrita (3). Essas habilidades, trazidas ao contexto da redação científica,
possuem potencial de prover eficiência ao processo de produção de manuscritos e celeridade ao fluxo editoral
nos processos de submissão aos periódicos científicos.
No entanto, como acontece com todas as “novas tecnologias”, há que se avaliar os benefícios e os riscos
envolvidos além dos futuros impactos produzidos a literatura científica, importante alicerce teórico de todo o
processo decisório relacionado ao diagnóstico e tratamento dos nossos pacientes.
O mais evidente benefício da assistência da IA na produção de artigos científicos é o incremento da eficiência
do processo de redação como um todo. A maior presteza da IA na execução de atividades “de repetição” que
consomem tempo considerável como a formatação de texto e a busca de referências bibliográficas, permitem
aos pesquisadores uma grande economia de tempo e esforço que então podem ser empreendidos no processo
criativo, tornando os autores mais motivados e elevando a qualidade final do manuscrito (4).
Outro aspecto importante a ser ressaltado é a possibilidade da escrita assistida por IA promover o aumento
do engajamento científico de autores, principalmente de alunos, falante não nativos da língua inglesa. O
desenvolvimento da escrita científica em inglês é uma habilidade que deve ser incentivado durante o treinamento
de todos os estudantes da área biomédica. A literatura já dispõe de estudos que comprovam que uso de
ferramentas de IA é capaz de aprimorar em estudantes chineses e paquistaneses o desempenho global na
escrita da língua inglesa além de outras habilidades específicas tais como coerência, coesão, amplitude do
vocabulário, variedade e precisão gramatical (5,6).
Em se tratando dos riscos envolvidos, uma preocupação que emergiu juntamente com a disseminação do
uso da IA na escrita acadêmica foi o potencial de crescimento do plágio. Por se tratar de um algoritmo alimentado
por dados textuais, existe o risco de partes do texto gerado em uma IA como ChatGPT, por exemplo, serem
cópias diretas de uma fonte original sem que seja atribuída a verdadeira autoria do manuscrito redigido. Há ainda
registro, por parte de alguns pesquisadores, da ocorrência de criação de fontes bibliográficas inexistentes (7).
A própria definição de plágio vem sendo amplamente discutida após a popularização do uso do ChatGPT. O
plágio é uma prática terminantemente proibida no meio acadêmico e definido como a utilização de ideias, palavras
e conceitos sem a devida citação ao autor. Isso inclui também parafrasear frases e conceitos de um autor e não
o citar (8). Alguns autores, principalmente alunos de pós-graduação estão sendo justamente acusados de plágio,
por terem usado IA nas suas redações científicas. No presente momento as ferramentas tanto para detecção de
plagio quanto do uso do ChatGPT carecem de precisão na detecção de ambas as situações.
Diante de todas as questões éticas e operacionais presente nesse complexo contexto, surgem várias
indagações, e, dentre elas, se destaca a seguinte: seremos capazes de solucionar as questões éticas envolvidas
com o uso da IA na escrita acadêmica e avaliar com isenção a pesquisa científica de um autor que declara
abertamente o uso de IA, sem estigmatizá-lo?
O papel das instituições acadêmicas, sejam elas, instituições de ensino ou revistas científicas, será de
extrema relevância nesse futuro que se apresenta com características desafiadoras.
Caberá à academia regulamentar o uso da IA no processo de escrita científica, mantendo o autor humano como
principal protagonista e relegando à IA o papel de ferramenta auxiliar. Para tanto é necessário o aprimoramento
da própria IA no que se refere a atribuição adequada de autoria dos textos, assim como no aperfeiçoamento
das ferramentas de detecção de plágio e de uso IA. Poderão igualmente contribuir para uma maior segurança
de autores, revisores e editores científicos, o estabelecimento de um código de conduta ética acessível e bem
definido além de um maior rigor na punição dos casos de uso de plágio.
O uso de IA na escrita científica é um avanço tecnológico com o potencial de aprimorar significativamente
a qualidade e a acessibilidade da literatura científica em todo planeta. Cabe a nós, membros da comunidade
acadêmica, zelar para que princípios éticos bem estabelecidos sejam os norteadores do seu uso.
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References
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