Mercês e cartografia no governo do Império Marítimo Português

o caso de João Teixeira

Autores

  • Marcello José Gomes Loureiro Doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ). Concluiu os Cursos de Especialização em História Militar Brasileira (UNIRIO) e em História do Brasil (UFF); é bacharel e licenciado em História (UERJ) e bacharel pela Escola Naval, com habilitação em Administração.

Palavras-chave:

Neotomismo, Império português, João Teixeira Albernaz

Resumo

Em um contexto de Antigo Regime, os Teixeiras produziram diversas cartas representando os domínios portugueses na América. Tais cartas eram narrativas das possessões lusas e permitiam que a coroa obtivesse conhecimento e pudesse formular uma gestão de seus mais distantes territórios. É preciso refletir até que ponto tais narrativas não eram formuladas para atender aos interesses da monarquia católica portuguesa, ou de alguns de seus grupos, mitigando assim informações impertinentes. Por exemplo, as informações apresentadas por João Teixeira afastavam muito daquelas registradas na documentação oficial. Analogamente, em suas representações de 1630, 1637, 1640 e 1642, João Teixeira inseria o Rio da Prata, região que ao menos desde a década de 1580 estabelecia comércio com o Império português, nas demarcações lusas, explicitando, dessa forma, a pretensão do direito português sobre áreas pertencentes ao Império de Castela. Nesse sentido, João Teixeira, como cartógrafo interessado em prestar serviços para a coroa, procurava elaborar representações que fossem da utilidade e benefício do serviço real. Não se pode esquecer que a monarquia costumava recompensar aqueles que lhe prestavam serviços. Sob uma cultura política de Antigo Regime, em que serviços prestados por vassalos eram trocados por mercês régias, as representações cartográficas muito provavelmente tiveram de se alinhavar aos interesses da coroa. Não foi à toa, então, que a cartografia de João Teixeira superestimou a defesa da cidade do Rio de Janeiro, bem como recorreu a diversos dispositivos gráficos para posicionar a região do Rio da Prata nas demarcações lusas de Tordesilhas. Assim, este trabalho pretende, a partir das informações apresentadas nas cartas de João Teixeira Albernaz, discutir alguns dos modos de legitimação e gestão da coroa portuguesa, demonstrando como seu “governo” dependia de uma série de informações advindas dos espaços locais da monarquia, geradas por homens que frequentemente esperavam ser reconhecidos pelos serviços que prestavam.

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Publicado

2020-06-08